
Futurismo foi um movimento modernista lançado por Marinetti (Filippo Tomaso Marinetti), autor italiano (1876-1944), e que se baseia numa concepção exasperadamente dinâmica da vida, toda voltada para o futuro, e combate o culto do passado e da tradição, o sentimentalismo, prega o amor das formas nítidas, concisas e velozes; é nacionalista e antipacifista.
"Em França e na Itália, Marinetti divulgara a partir de 1909 os princípios basilares do futurismo: luta sem quartel às tradições, à cultura feita; exaltação dos instintos guerreiros; apologia dum novo Homem-protótipo isento de sensibilidade, saudável, amoral, dominador, livre de todas as peias"
(Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa)
Mas, é imprescindível iniciar esse trabalho com a apresentação do próprio Fernando Pessoa sobre o futurismo. Futurismo esse, que em Portugal, adquiriu um caráter Sensacionista. Os três princípios básicos do "sensacionismo", tal como Pessoa os formulou em voz de seu mestre Alberto Caeiro sâo:
"1. Todo objeto é uma sensação nossa;
2. Todo objeto é uma sensação em objeto;
3. Portanto, toda arte é a conversão de uma sensação numa outra sensação."
Entretanto no caso de Pessoa ainda temos a existência de Pessoas. Ele não tem nenhum paralelo próximo, não apenas por causa de sua estrutura onde quatro vozes assumem uma única personalidade, mas também por diferenças mercantes entre essas quatro vozes. Cada uma tem sua própria biografia e físico detalhados. Caeiro é loiro, pálido e de olhos azuis; Reis é de um vago moreno mate; e "Campos, entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo", como nos diz Pessoa. Caeiro quase não dispôs de educação e vive de pequenos rendimentos. Reis, educado num colégio de jesuítas, é um médico auto-exilado no Brasil desde 1919, por convicções monárquicas. Campos é engenheiro naval e latinista.
O Caeiro em Pessoa faz poesia por pura e inesperada inspiração. A obra de Ricardo Reis é fruto de uma deliberação abstrata, quase analítica. As afinidades com Campos são as mais nebulosas e intricadas. "É um semi-geterônimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu, manos o raciocínio e afetividade".
A língua de Campos é bastante parecida à de Pessoa; Caeiro escreve um português descuidado, por vezes com lapsos; Reis é um purista cujo linguajar Pessoa considera exagerado.
Caeiro, Reis e Campos são "os protagonistas de romance que Pessoa jamais escreveu" segundo Octavio Paz em "A Centenary Pessoa" (" Um Pessoa Centenário"). Pessoa não é entretanto "um inventor de poetas-personagens, mas um criador de obras de poetas", argumenta Paz. "A diferença é crucial". As biografias imaginárias, as anedotas, o "realismo mágico" do contexto histórico-político-social em que cada máscara se desenvolve são um acompanhamento, uma elucidação para os textos. O enigma da autonomia de Reis e Campos é tal que, vez por outra, eles chegam a tratar Pessoa com ironia ou condescendência. Caeiro, por sua vez, é o mestre, cuja brusca autoridade e salto para a vida generativa, desencadeiam todo o projeto dramático. Paz distingue com acurácia estes fantasmas animados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário