quarta-feira, 22 de julho de 2009

Amanhecer despenteado...




Amanhece despenteado, ainda com restos de sono agarrados à cara. Abre um olho com esforço, depois o outro a contragosto. Toma balanço, e à terceira é de vez... ergue o tronco lentamente, como num filme em câmara lenta. Apalpa o tapete com as palmas dos pés em busca dos chinelos que se desviaram. Levanta um quilo de chumbo colado ao corpo e arrasta-se a custo até ao bordo da sanita que o esperava há horas... procura a abertura minúscula dos boxers e saca daquele cuja ponta lhe aponta um esguicho descontrolado, onde despeja um litro de vontade. Sacode e recolhe a urgência aliviada enquanto arranha a coxa comichosa...
Dá meia volta e mira-se no espelho redondo que lhe devolve a careta sem demora. Desconfia do espelho, quando este lhe mostra o outro... aquele que ali vê, não é o dono da casa onde mora!
Dá um pulo do susto e apressa-se a desmascarar o intruso. Desfaz a barba num instante de espuma branca e lâmina afiada, esgueirando-se de imediato por detrás do cortinado amarelo da banheira. Abrem-se as duas torneiras ao mesmo tempo, a do chuveiro e a da garganta desafinada.
De volta ao espelho que agora lhe sorri com simpatia, dá os últimos retoques de dedos no cabelo molhado e duas palmadas de after shave na máscara de mais um dia...

Nenhum comentário:

Postar um comentário